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domingo, 14 de fevereiro de 2010

Uma mulher vestida de sol, de Apocalipse 12



Uma mulher vestida de sol
                                                                                                                  
 Pr Airton Evangelista da Costa
   Um sinal grandioso apareceu no céu: uma Mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas; estava grávida e gritava, entre as dores do parto, atormentada para dar à luz. Apareceu então outro sinal no céu: um grande Dragão, cor de fogo, com sete cabeças e dez chifres e sobre as cabeças sete diademas; sua cauda arrastava um terço das estrelas do céu, lançando-as para a terra. O Dragão colocou-se diante da mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho, tão logo nascesse. Ela deu à luz um filho, um varão, que irá reger todas as nações com um cetro de ferro. Seu filho, porém, foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono, e a Mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe havia preparado um lugar em que fosse alimentada por mil duzentos e sessenta dias. (...) Ao ver que fora expulso para a terra, o Dragão pôs-se a perseguir a Mulher que dera à luz o filho varão. Ela, porém, recebeu as duas asas da grande águia para voar ao deserto, para o lugar em que, longe da Serpente, é alimentada, é alimentada por um tempo, tempos e metade de um tempo. A Serpente, então, vomitou água como um rio atrás da Mulher: a terra abriu a boca e engoliu a água que o Dragão vomitara. Enfurecido por causa da mulher, o Dragão foi então guerrear contra o resto dos seus descendentes, os que observam os mandamentos de Deus e mantêm o Testemunho de Jesus” (Ap 12.1.17).

   Seria a santa Maria, a mãe de Jesus, essa “Mulher que deu à luz um varão”, fugiu para o deserto, onde foi alimentada por mil duzentos e sessenta dias?   >>> LEIA A MENSAGEM NA ÍNTEGRA CLICANDO AQUI >>>>


Colhemos de um site de apologética católica a seguinte interpretação:
   No Apocalipse, João contempla nesta visão três verdades: a Assunção de Nossa Senhora, sua glorificação, sua maternidade espiritual. O Apocalipse descreve que esta mulher ”estava grávida e (...) deu à luz um Filho, um menino, aquele que deve reger todas as nações..." (Ap 12, 2.5 ). Qual mulher, que de fato, esteve grávida de Jesus senão a Santíssima Virgem? (conf. Is 7, 14). Outros contestam, dizendo que esta mulher é símbolo da Igreja nascente. Mas, a Igreja nunca esteve "grávida" de Jesus Cristo! Antes, foi Cristo que gerou a Igreja, foi ele que a estabeleceu e a sustenta. E para provar que esta mulher é exclusivamente Nossa Senhora, em outro lugar está escrito: "O Dragão vendo que fora precipitado na terra, perseguiu a Mulher que dera à luz o Menino" ( Ap 12, 13 ). A Igreja teria dado à luz a um Menino? Evidente que não! Portanto esta mulher refulgente é unicamente, Nossa Senhora, pois foi ela unicamente que gerou "o menino" prometido  (conf. Is 9, 5 ). Diz ainda a Sagrada Escritura que: "(o Dragão) deteve-se diante da Mulher que estava para dar à luz (...) para lhe devorar o Filho (...) A Mulher fugiu para o deserto, onde (...) foi sustentada por mil duzentos e sessenta dias" (AP 12, 4.). De fato, o demônio maquinou contra a vida de Jesus desde seu nascimento, na pessoa do perseguidor Herodes. Maria fugiu então com o filho para o deserto (Egito). Lá ficou por aproximadamente mil e duzentos e sessenta dias (três anos e meio). Ou seja, do ano 7 AC, ano do nascimento de Jesus, conforme atualmente se acredita, até março-abril do ano 4 AC, ano da morte de Herodes. Perfazendo os três anos e meio de exílio, nos quais foi sustentada pela Providência.  Portanto, todos esses versículos, confirmam primeiramente a assunção de Nossa Senhora. Pois o apóstolo a contempla revestida de sol, já estabelecida desde agora na glória prometida pelo seu Filho, quando diz "Os justos resplandecerão como o sol" (Mt 13,43). Confirma incontestavelmente sua realeza espiritual, pois a mesma se apresenta coroada com doze estrelas, símbolo das doze tribos de Israel e dos doze apóstolos. Portanto Rainha do Antigo e do Novo Testamento. Por fim confirma sua maternidade espiritual, pois diz o Espírito Santo: "(O Dragão) se irritou contra a Mulher (Maria) e foi fazer guerra ao resto de sua descendência (seus filhos espirituais), os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus" (Ap 12, 1). “Somos de sua descendência apenas se nos comprometermos com o Cristo Jesus, guardando os seus mandamentos e testemunhando-o como nosso Senhor e Salvador”.
   Colhemos também a seguinte declaração:
“Eis porque a Igreja aplica a Maria Santíssima, assunta ao céu, a imagem apocalíptica da “Mulher Vestida de Sol” (Ap 12.1), imagem essa que também se aplica à Igreja como tal. O sol de que a mulher está vestida, simboliza Deus que envolve e transformas inteiramente o ser de Maria e nele resplandece. Essa Mulher do Apocalipse é coroada de doze estrelas. Coroada, significa rainha. As doze estrelas são as doze colunas da Igreja, os apóstolos. Assim, Maria aparece como Rainha da Igreja e Rainha do Universo”.
   A interpretação acima, que aparece também nos debates entre católicos e protestantes, não é das mais felizes.  Vejamos alguns pontos discrepantes:
1) A Bíblia não diz que os salvos em Cristo receberão uma coroa de doze estrelas; 2) Também nada registra sobre os tormentos e os gritos de Maria na hora do parto. Acredito que Maria sentiu as dores normais, mas não a ponto de ficar atormentada; 3) Maria fugiu para o Egito (Mt 2.14) e não para o deserto; 4) Pelo relato de Apocalipse, o filho foi arrebatado e a mulher fugiu para o deserto, o que realmente não aconteceu com Maria, Jesus e José; 5) O cálculo dos 1.260 dias, como acima, pareceu-me impreciso, sem convicção, aproximado.  6) O texto não fala – nem a Bíblia, em qualquer de seus livros  -  na Assunção de Maria,  na  sua glorificação e maternidade espiritual. 7) A interpretação segundo a qual o texto se refere a Maria está na contramão do que pensam eruditos católicos e protestantes, conforme  registros a seguir.
   Vejamos qual a interpretação da Bíblia [católica] de Jerusalém, primeira impressão em setembro/1985, Sociedade Bíblica Católica Internacional e Paulus, autenticada em 1.11.1980 com a assinatura de Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Metropolitano de São Paulo. Na apresentação, os editores disseram que “após três anos de árduo e intenso trabalho, realizado por uma equipe de exegetas católicos e protestantes e por um grupo de revisores literários, pudemos entregar ao público a tradução do Novo Testamento”.  Pois bem, essa comissão do mais alto nível, concluiu o seguinte com relação à “Mulher vestida com o sol” (Ap 12.1.17):
“A cena corresponde a Gênesis 3.15,16. A mulher dá à luz na dor (v.2) aquele que será o Messias (v.5). Ela é tentada por Satanás (v.9), que a persegue, bem como a sua descendência. Ela representa o povo santo dos tempos messiânicos (Is 54; 60; 66.7; Mq 4.9-10), e, portanto, [representa] a Igreja em luta. É possível que João pense também em Maria, a nova Eva, a filha de Sião, que deu nascimento ao Messias (cf. Jo 19.25)”. (Grifo nosso).
   Então, o entendimento dos eruditos católicos é o de que a “mulher” em referência simboliza a Igreja perseguida.  Apenas no final, dizem ser “possível” que o autor do Apocalipse estivesse pensando em Maria. Esta possibilidade não pode e não foi levada a sério; são conjecturas, suposições, tentativa de adivinhar o pensamento do apóstolo João.   Para entendermos melhor o assunto, vamos ler Isaías 66.7-9 (referência citada pelos exegetas católicos): “Antes que estivesse de parto, deu à luz; antes que lhe viessem as dores, deu à luz um filho. Quem jamais ouviu tal coisa? (...) Nasceria uma nação de uma só vez? Mas Sião mal sentiu as dores de parto, e já deu à luz a  seus filhos”. 

   A Bíblia de Estudo Pentecostal, concordando, esclarece que “Isaías prevê o renascimento de Israel como o povo de Deus, durante o reino messiânico; o nascimento será singularmente rápido e trará alegria, paz e prosperidade”.  Devemos ter o cuidado para não identificar Maria com tudo que dar à luz um filho. Leiam também Isaías 26.17-19;  Miquéias 4.9-10).

   Vejamos agora os comentários da Bíblia Sagrada, Edição Ecumênica, tradução do Padre Antônio Pereira de Figueiredo, com notas do Monsenhor José Alberto L. de Castro Pinto, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro, BARSA, 1964, aprovada, portanto, pela Igreja Católica:

“Apocalipse 12.1 - Uma mulher: não é o símbolo da SS. Virgem, mas sim o do Povo de Deus, primeiro Israel, que deu ao mundo Jesus Cristo segundo a carne e depois o “Israel de Deus”, isto é, a Igreja que enfrentaria  as perseguições do Dragão.  O sol, a lua e as estrelas são apenas figuras para expressar seu esplendor. Por acomodação a Igreja aplica este versículo à SS.Virgem”. (os grifos são nossos).

   Primeiro, os comentaristas católicos dizem o óbvio, o que não pode ter outra interpretação, ou seja, que a mulher revestida do sol simboliza o Povo de Deus, Israel, donde nasceu Jesus, e a Igreja perseguida. No final, declaram que o Catolicismo aplica o versículo à SS. Virgem por acomodação, o que me parece uma afirmação que compromete a lisura e imparcialidade com que devemos interpretar e ensinar a palavra de Deus. Acomodação dá idéia de arrumação, de arranjo. A advertência de Apocalipse 22.19 pode ser aplicada nesse caso: “E se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus lhe tirará a sua parte da árvore da vida..”.

   Os comentaristas da Bíblia [evangélica] de Estudo Pentecostal concordam em linhas gerais com os das bíblias católicas. Vejam:

Apocalipse 12.1 – Uma mulher – Esta mulher simboliza os fiéis de Israel, através dos quais o Messias  (i.e., o menino Jesus) veio ao mundo (cf. Rm 9.5). Isso é indicado não somente pelo nascimento do menino, mas também pela referência ao sol e à lua (ver Gn 37.9-11) e às doze estrelas, que naturalmente se referem às doze tribos de Israel”.  “Apocalipse 12.6 – A mulher fugiu – Aqui, a mulher simboliza os fiéis de Israel na última parte da tribulação (cf. os 1260 dias, metade exata do período da tribulação). (1) Durante a tribulação, esses fiéis de Israel, judeus tementes a Deus, opor-se-ão à religião do Anticristo. Examinando com sinceridade as Escrituras, eles aceitam a verdade de que Jesus Cristo é o Messias (Dt 4.30-31; Zc 13.8-9). São socorridos por Deus durante os últimos três anos e meio da tribulação, e Satanás não poderá vencê-los (ver vv 13-16). (2) Quem de Israel aceitar a religião do Anticristo e rejeitar a verdade bíblica do Messias, será julgado e destruído nos dias da grande tribulação (ver Is 10.21-23; Ez 11.17-21; 20.34-38; Zc 13.8-9)”.  “Apocalipse 12.13 – Perseguiu a mulher – Satanás procura destruir a mulher. Aqueles em Israel, que aceitarem a Cristo, serão vigiados e perseguidos por Satanás e pelos seguidores do Anticristo (cf Mt 24.15-21). Deus dará proteção sobrenatural aos santos de Israel durante esse período (vv 14-16)”.

   Vamos ver alguns trechos de O Novo Comentário da Bíblia, Edições Vida Nova, primeira Edição em 1963:

A mulher e o seu filho (Ap 12.1-17) – Os gregos contavam uma história do nascimento de Apolo marcadamente paralela à dos vv. 1-6. Os egípcios semelhantemente relatavam o nascimento de Hórus; um fato é que a história, em formas modificadas, parece ter sido universalmente contada.  Claramente, João tem empregado uma narrativa bem conhecida (primeiramente adaptada, aparentemente, por um judeu) tanto para ilustrar o seu próprio tema, como para tacitamente excluir todos os heróis de outras crenças da posição de Redentor universal (...) Para as nações pagãs do mundo antigo, a mulher grávida (12.1,2) teria sido uma deusa coroada com as doze estrelas do zodíaco. O judeu teria visto nela o seu próprio povo, encabeçado pelos doze patriarcas. João mostra que ela não representa nenhum destes, MAS [representa]  O VERDADEIRO POVO CRENTE DE DEUS, tanto da velha, como da nova dispensação, a comunidade messiânica. (...) O dragão agora volta a sua atenção para A MULHER, ISTO É, A IGREJA, tendo falhado no caso do Senhor dela  (cfr. João 15.20).  No simbolismo que revela o ataque contra a mulher, a serpente é considerada como um monstro da água, inclusive a personificação do mar. Daí a mulher foge para o refúgio no deserto (14), onde um monstro marítimo não pode ter lugar. Para não ser superada, a serpente manda após ela um dilúvio, mas a terra o traga, de maneira que não se faça mais nada por ele (15,16). O retrato bem ilustra a segurança espiritual dos crentes contra tudo que o diabo possa fazer em suas tentativas para destruí-los”.

   Todas as interpretações apontam para um só entendimento, o de que  a mulher vestida com o sol simboliza Israel, a  Igreja de Cristo, o Povo de Deus. Nada há que possa indicar a descrição do parto de Maria, na cidade de Belém, sua fuga para o Egito, ou sua assunção.  Em sua essência, os eventos apocalípticos apontam para o futuro, e não para o passado, “para dar aos crentes de todas as eras a perspectiva divina do férreo conflito entre eles e as forças conjuntas de Satanás, nesta revelação de desfecho da história. O Apocalipse revela principalmente os eventos dos últimos sete anos da segunda vinda de Cristo, quando, então, Deus intervirá neste mundo e vindicará seus santos, derramando sua ira sobre o reino de Satanás”. Neste contexto, insere-se a visão da mulher e o dragão, objeto da presente análise.

   Concluindo, a “mulher vestida de sol”, de que trata Apocalipse 12, não é a mãe de Jesus, ainda que seja despendido algum esforço para acomodar a interpretação.

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