Ora, vemos aí uma inversão de valores. Quem deveria ser notícia é aquele que não devolveu o bem ao legítimo proprietário. Não apropriar-se do que não é seu é um ato normalíssimo. Aliás, deveria sê-lo, segundo os padrões de moralidade. Todavia, sabemos que a desonestidade passou a fazer parte da vida brasileira. Vivemos a geração da lei de "levar vantagem em tudo". Os fins justificam os meios. Dito isto, pergunto: Qual é o seu preço?
Diante de tal pergunta, negamos qualquer procedimento que venha denegrir nossa imagem de homens probos, corretos, honestos, cônscios de suas obrigações. Julgamos que os deslizes praticados em oculto, na calada da noite, longe dos olhares, são garantia de impunidade. Nossas camufladas e pequenas corrupções do cotidiano já não provocam qualquer dor de consciência, pudor ou desconforto na alma. Estamos cada vez mais despudorados e desavergonhados. Acã, como relata a Bíblia, pensou que sua apropriação indébita estivesse muito bem escondida. Judas achou que as trintas moedas da traição lhe garantiriam um porvir feliz. Vamos fazer o dever de casa:
Para que a mercadoria fique por um preço mais baixo, você é capaz de comprá-la sem nota fiscal? A desonestidade não é medida pelo montante em dinheiro envolvido, mas pelo propósito, pela intenção. O "mensalão" pode ser de dez milhões ou de dez reais. Quem aceita dez reais, aceita cem, quinhentos mil ou um milhão. Por onde entra um boi, entra uma boiada.
Você está disposto a subornar um guarda para que ele não registre a sua infração no trânsito? Ou você aceita pacificamente a multa?
Você apresenta ao seu patrão um atestado médico "frio" para deixar de trabalhar em determinado dia?
Você, empresário, não assina a carteira de trabalho de seus empregados e não concede o que lhes é devido, tais como FGTS, férias, décimo terceiro salário e outros benefícios trabalhistas?
Você compra artigos de contrabando e de pirataria, mesmo sabendo tratar-se de negócio ilegal?
Você inclui valores indevidos na sua declaração de imposto de renda para obter maior restituição ou menor pagamento de imposto?
Se o caixa de um banco ou de qualquer empresa lhe der, por engano, um troco acima do devido, você prontamente faz a devida devolução, ou você apenas diz que "esse dinheiro caiu do céu"?
Antes de apontarmos nossos indicadores para os que venderam suas consciências e meteram a mão no dinheiro público, através de muitas e variadas falcatruas, precisamos fazer uma introspecção. Será que não estamos contribuindo de algum modo para engrossar as águas da corrupção? Ou melhor, será que não somos corruptos e corruptores mirins a espera da oportunidade ideal para fazermos o grande lance, a grande jogada, a cartada decisiva?
Um abismo chama outro abismo. Estamos assistindo ao vivo e em cores a um festival de mentiras descaradas. Homens, que há poucos dias ostentavam o título de presidente ou diretor de alguma empresa; ou excelentíssimos parlamentares que deveriam ser exemplo de honestidade para os jovens, mentem de forma vergonhosa. E se escondem atrás de um habeas-corpus para que possam continuar fugindo à verdade. Diante desse quadro de horror, somos levados a pensar que todos são desonestos até prova em contrário.
A Bíblia é o mais perfeito código de ética e moral, porém desprezada por muitos. É proveitosa para o ensino, para a repreensão, correção e instrução na justiça, "para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra" (2 Tm 3.16-17). O processo do "novo nascimento" produz no homem a capacidade de dominar suas paixões infames. Assim, mediante a lavagem no sangue purificador de Cristo, a voz da corrupção não terá poder sobre nós. Não importa se o preço oferecido seja um punhado de moedas, ou de um bilhão de dólares.
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