Os mistérios do Vodu
Autor : | Prof. João Flávio Martinez |
Maio é o período do ano mais ativo para os adeptos do vodu, pois é quando se intensifica o ritual e magias em busca da “felicidade”.
Quando pensamos em vodu, sempre nos vem à mente bonecos sendo espetados por agulhas. Este conceito pode ser visto até mesmo em um recente comercial de TV, onde uma garota faz uma magia contra um rapaz lançando mão de uma prática vodu. Contudo, esse grupo religioso misterioso envolve muito mais que isso.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o vodu é praticado há mais de cem anos nos Estados de Louisiana e Mississipi. No Haiti, quase toda a população se envolve com o vodu – o país tem o voduísmo como religião oficial. Já no Brasil, o seu exercício foi veiculado com grande sincretismo, pois se misturou ao catolicismo nordestino e aos cultos afros.
O fascínio pelo oculto
O pesquisador Josh Macdowell atribui a busca pelo oculto à curiosidade humana, que conduz o homem ao esforço pelo conhecimento das coisas secretas, aquelas que parecem extrapolar os cinco sentidos. De fato, desde épocas remotas, o homem tem perseguido desvendar o oculto. Segundo comenta a psicóloga e professora universitária Any Lílian, “a busca permanente pelo oculto, em geral, é o que todos fazemos ao tentar alargar nossos conhecimentos, o que pode ser saudável, pois muito do conhecimento filosófico e científico construído pela humanidade se originou de ‘mistérios’ tidos como ocultos no passado, mas que estão desvendados no presente”.
Entretanto, o que temos diante de nós aqui é uma manifestação religiosa rigorosamente ocultista envolvendo elementos que, para muitos, não passariam de lendas religiosas de filmes de terror. Serpentes, fetiches, zumbis, cemitérios e outros itens dão conta de atrair a atenção dos pesquisadores ao “mundo vodu”. O que pretendemos nesta matéria não é promover o voduísmo, mas reportar seus mistérios e crenças exóticas, esclarecendo e informando nossos leitores.
O voduísmo no Haiti
O termo vodum ou vodu, como chamamos, teve sua origem no Oeste da África, num reino chamado Daomé, atualmente conhecido como Benin.Com a escravidão no século 19, os nativos de Daomé foram capturados e levados para que fossem trocados por armas e alimentos por mercadores europeus, o que os levou a se estabelecer em muitas partes das Índias Ocidentais e no Haiti. Como na época a igreja católica demorou a constituir um clero que pudesse batalhar pela religião cristã no Haiti, esta ausência prolongada deu aos escravos a oportunidade de combinarem a sua religião, o vodu, com o catolicismo, formando um denso sincretismo (mistura) religioso. Diz-se que 95% dos haitianos são católicos e 100%, adeptos do vodu. Tanto é assim que, às vezes, é difícil determinar onde acaba o catolicismo e começa o voduísmo.
O presidente haitiano, Jean Bertrand Aristides, ex-padre católico, declarou, em abril de 2003, o vodu como religião oficial do país. Com essa posição do governo, os casamentos realizados no vodu passaram a ser aceitos e considerados oficiais, tendo valor religioso, como ocorre com as demais religiões ao redor do mundo.
Contudo, apesar da proeminência voduísta no país, existe também um trabalho missionário cristão que tem incomodado o sossego desse grupo. O fundador da Missão Evangélica do Norte do Haiti, Jean Berthony, promove anualmente uma campanha evangelística no país, o que tem gerado bons resultados. Numa dessas ocasiões, as autoridades locais proibiram o seu trabalho, declarando que a cruzada evangelística do pastor Berthony teria sido a responsável por expulsar todos os espíritos vodus do país durante um tempo.
Mas a importância do vodu no Haiti ultrapassa o âmbito religioso. O turismo haitiano tem explorado o voduísmo com afinco. A ministra do turismo, Martine Deverson, disse: “Hoje em dia existe uma consciência maior do patrimônio cultural do Haiti, e o vodu, apesar de freqüentemente ser confundido com magia negra, pode ser fator de atração para os visitantes”.
A adoração no voduísmo
Como em muitas religiões, o vodu também possui um templo. Mas o que caracteriza o santuário é uma coluna chamada poteau-mitan. Localizada no centro do templo, essa coluna é considerada sagrada pelos seguidores e é em sua volta que as cerimônias de comunicação com as divindades são realizadas. Ao redor da poteau encontram-se desenhos decorativos chamados vevers. São representações heliográficas de diversas entidades adoradas no vodu. Aliás, entidades é que não faltam no vodu, que possui um grande panteão.
Os nomes das divindades se alteram, dependendo da região onde o ritual é praticado, mas a maioria dos adeptos dessa prática considera que o panteão veio do Oeste africano. As entidades desses panteões, por muitas vezes, são consideradas pelos adeptos como espíritos de pessoas que já morreram, homens que tiveram importância dentro da comunidade religiosa, príncipes ou sacerdotes. Esses espíritos levam o nome de loas, e podem ser classificados em entidades de dois grupos:
Rada:: entidades transmitidas por Daomé.
Petros : entidades que, ao longo do tempo, infiltraram-se na prática religiosa vodu.
Segundo a crença vodu, as manifestações dos grupos petros e rada têm personalidades e sensibilidades definidas e procuram sempre seguir uma família específica de adeptos. Outras divindades são públicas, manifestando-se em qualquer pessoa. Hungans e mambos
A maioria das religiões possui líderes que conduzem seus cultos e rituais. No vodu isso também existe, eles são conhecidos por hungans. A mulher também tem a sua participação, porém, a terminologia a ela conferida é mambo.
Existem algumas informações que apontam o voduísmo como uma religião matriarcal, na qual a mambo é conhecida também como rainha, porém, é o hungan que preside o hunfort, o santuário religioso. O sacerdote vodu possui várias posições: atua como curandeiro, adivinho e exorcista. Nas comunidades em que se observa a falta do sacerdote a mulher toma a frente, sendo considerada a maior autoridade religiosa.
Cerimoniais vodu
Geralmente, as cerimônias são realizadas no período noturno. Fazem parte do ritual: bebidas de rum, frutas e jarros de barros. As bebidas e comidas são erguidas e oferecidas aos loas, para invocá-los. No intuito de alegrar essas entidades, os voduístas lhes oferecem também sacrifícios de aves, porcos, galinhas, bodes e afins. Após as oferendas com danças, os loas possuem os corpos de seus súditos. É interessante que nas possessões os indivíduos não possuem consciência daquilo que fazem e, conseqüentemente, não se lembram de nada após o término do ritual.
No vodu, mais ou menos como ocorre na Umbanda, as danças em volta da ponteau-mitan são de suma importância, pois servem para se obter a espiritualidade: as pessoas que envolvem com a dança são mais rapidamente possuídas. Para cada divindade existe um tipo de música, instrumento e ritmos específicos, segundo o gosto de cada loa, que exige que tudo seja purificado e consagrado para o ritual. Na Umbanda, os atabaques também são consagrados para fazer que os orixás de Aruanda e Orum se manifestem.
As serpentes também fazem parte de alguns cerimoniais. No ritual chamado mambo, o réptil é retirado de um cesto e posto bem próximo do rosto da sacerdotisa que, ao tocar no animal, recebe, supostamente, visão especial e poderes sobrenaturais.
Segundo a crença vodu, os primeiros homens criados eram cegos e foi justamente a serpente que conferiu visão à espécie humana.
Boneco vodu
Sem dúvida, o boneco vodu é o primeiro elemento que vem à mente dos leigos quando se fala em voduísmo. Tal objeto é empregado para invocar os poderes dos deuses do vodu e recebe o nome de fetiche, que significa feitiço. O fetiche é confeccionado por quem irá realizar o trabalho de magia e, enquanto é feito, a pessoa tem de mentalizar os objetivos que quer alcançar com o ritual e “transmitir” sua energia ao boneco.
O fetiche deve ser feito com a semelhança anatômica de uma pessoa: cabeça, tronco e membros. Partes indispensáveis para a “eficácia” da magia são os órgãos genitais masculinos ou femininos. O boneco precisa ser batizado com o nome da pessoa que irá representar e, geralmente, é feito de massa de modelar, nunca de pano ou outro material.
Segundo as sacerdotisas, tais bonecos são feitos para realizar o bem, para se alcançar prosperidade e curas. O que pessoa precisa fazer é perfurá-los com espetos ou alfinetes. Mas na prática as intenções nem sempre são essas.
Zumbis
Outro elemento do culto vodu é o zumbi. O cinema norte-americano popularizou esses “personagens” em seus filmes. Todavia, os seguidores do vodu dizem o seguinte: “Aquilo que o cinema mostra é totalmente diferente do que é feito na prática vodu. Os zumbis não são pessoas mortas, como divulga o cinema”.
Na verdade, segundo os ensinos vodus, o processo para se chegar a ser um zumbi é feito por meio de ervas que contêm substâncias capazes de deixar a pessoa em um estado de “morto-vivo”. Para o médico Carlos Alberto Serafim, especialista em cardiologia, esses compostos de ervas deixam o batimento cardíaco mais lento. As ervas utilizadas pelos sacerdotes têm a capacidade de dilatar as pupilas, fazendo a pessoa perder a sensibilidade à luz e deixando-a em um estado de transe, o que facilita o processo de ritual feito pelo sacerdote, uma vez que o candidato torna-se totalmente manipulável.
O pesquisador e antropólogo do museu botânico da universidade de Harvard, Estados Unidos, Wade Davis, que se envolveu com a sociedade secreta do Haiti, foi procurado há algum tempo por dois psiquiatras que acreditavam existir uma poderosa droga capaz de transformar uma pessoa em zumbi. Davis explicou o seguinte:
“O ritual se dá por meio da magia negra [...] a vítima tem todo o indício de morte aparente, quase não respira, tem a pele fria, quase não tem pulsação e, mesmo assim, está viva”.
Isto se deve ao fato de a pessoa ficar horas sem oxigenação no cérebro, o que reduz o seu nível de consciência. O curioso é que entre os componentes da fórmula utilizada pelos feiticeiros podem ser encontrados narcóticos, tetradotoxina, veneno neurotóxico e até veneno de rãs. O feitiço do zumbi
Dentro do sistema de crenças vodus, o zumbi é um dos feitiços mais temidos. Muito mais do que a magia dos bonecos.
O bokor, praticante de magias e feitiços, possuído por uma entidade chamada Baron Samedi, fornece as diretrizes para a pessoa que deseja praticar a magia. O “cliente” tem de ir ao cemitério, à meia-noite, e ali apresentar ofertas especiais às divindades. Dali, ele deve tomar um punhado de terra para cada pessoa que deseja matar (esta é considerada uma magia negra para a morte). Após pegar a terra, o praticante deve espalhá-la pelos lugares em que suas vítimas costumam passar. Depois, retira algumas pedras de um túmulo, as quais servirão como instrumentos para realizar o designo maligno. Quando o praticante joga a pedra na porta da casa da pessoa para qual a magia foi direcionada, a vítima começa a adoecer e a emagrecer, chegando à morte em um curto espaço de tempo.
Mas, segundo a crença vodu, o feitiço pode ser desfeito. Se por acaso esta pessoa for diagnosticada a tempo de que recebeu o tal feitiço, ela deve procurar um hungan rapidamente para retirar-lhe a magia e expulsar os maus espíritos.
Biblicamente, sabemos que o crente não precisa se preocupar com feitiços de nenhuma espécie, por mais assustadores que sejam. A palavra de ordem para que o cristão não seja alvo destes e de outros dardos do diabo é temer a Deus: “O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra” (Sl 34.7). Em nossas vidas, a maldição sem causa não se cumpre (Pv 26.2).
Magia do bem ou do mal?
Apesar de tudo isso, existe uma certa militância por parte de alguns voduístas em insistir que a magia vodu trabalha para o bem. No vodu, a idéia de distinção entre a magia do bem e do mal é difundida com esmero, pois a sacerdotisa ou o sacerdote geralmente recusa-se a realizar magia negra que, segundo eles, se destinaria apenas aos bokors – oficiantes do ritual com fins maléficos. Assim, hungans e manbos realizam rituais para o “bem” e os bokors, para o mal.
Analisando algumas manifestações afro-brasileiras, vemos que existe também uma grande preocupação em não macular sua prática religiosa, a fim de que seus conceitos e propósitos não sejam confundidos. Os umbandistas, por exemplo, se esforçam em pregar que sua religião desenvolve magias voltadas para o bem, enquanto que a Quimbanda, para o mal. Todavia, ao verificarmos as práticas observadas pelos dois segmentos, constatamos que seus elementos ritualísticos são rigorosamente idênticos. Por exemplo, as oferendas com sacrifícios de animais e os toques dos tambores e danças são partes peculiares dos cultos afros. Semelhantemente, isso ocorre também no Candomblé, onde a prática de sacrifícios de animais é “exigida” pelas entidades por ocasião das possessões dos espíritos.
Rótulo diferente, embalagem igual
Como o leitor pode perceber, o nome vodu, em relação a algumas manifestações afros, pode até ser diferente, mas os fundamentos principais expressados em suas práticas não são tão estranhos assim, quando comparados com as práticas exercidas nas macumbas, independente da linha a que pertencem: Umbanda, Quimbanda, Candomblé... onde os fetiches do vodu são substituídos pelos patuás.
Até o sincretismo do voduísmo com o catolicismo do Haiti pode ser claramente enxergado no Brasil por meio dos cultos afros. Podem-se alterar os nomes, mas as castas espirituais são as mesmas: orixás africanos e santos católicos dividem os mesmos altares. Se no vodu o lado da “esquerda” existe, no Brasil temos a Quimbanda. Tal como no voduísmo, nos cultos afro-brasileiros também são feitos “trabalhos” em cemitérios e oferendas em cachoeiras, encruzilhadas, etc. Aliás, muitas iniciações da Quimbanda são feitas em cemitérios. Enquanto no vodu confeccionam-se fetiches batizados com o nome da pessoa que se almeja atingir, nos cultos afro-brasileiros costuram-se as bocas dos sapos com o nome da pessoa dentro. O vodu pede um período de preparo para os iniciados, no Candomblé o iniciado deve se preparar por alguns meses. Os pais e mães-de-santo possuem os mesmos atributos dos hungans e das mambos.
A herança espiritual muda de nome, mas não muda de senhor. O rótulo é diferente, mas a embalagem é igual!
Contra o vodu
A prática vodu é feitiçaria sem maquilagem. A Bíblia identifica tais práticas como cultos demoníacos. A história relata que a igreja primitiva teve de ser submetida a constantes advertências por parte dos apóstolos porque os cristãos daquele tempo eram seduzidos a buscar nos feitiços e magias a “felicidade”. Hoje em dia, é isso o que constatamos entre aqueles que não têm suas vidas regidas pela Palavra de Deus. A Bíblia é expressa em apresentar sua oposição aos sacrifícios dos cultos afro-brasileiros ou voduístas: “Que digo pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? Antes, digo que as coisas que eles sacrificam é a demônios que a sacrificam e não a Deus...” (1Co 10.19,20).
Para que possamos alcançar bênçãos, curas e outros benefícios, seja para nós ou para nossos amigos, parentes ou irmãos, não precisamos confeccionar nem “energizar” nenhum objeto, principalmente bonecos. Tampouco devemos ter medo de magias, pois a Bíblia nos assegura que contra os crentes o encantamento é inválido, não tem eficácia (Nm 23.23).
Quando precisarmos de algo, devemos recorremos ao Senhor nosso Deus, colocando diante dele nossas necessidades (Mt 21.22; Mc 11.24). Somos purificados pela luz divina e não por meio de rituais tenebrosos. Para tanto, devemos apenas andar na presença de Deus, mantendo comunhão uns com os outros. Agindo assim, o sangue de Jesus nos purifica de todo o pecado (1Jo 1.7).
Muitos brasileiros (inclusive alguns crentes, infelizmente) possuem certa tendência ao misticismo, o que os leva a assediar o oculto, e isso, muitas vezes, os torna vítimas de seus próprios desejos. Aos crentes com essa tendência, devem, a todo custo, resistir a tais ensinos e seguir a receita básica diária para a sua vida espiritual: leitura bíblica, oração, testemunho e santificação. Somente assim conseguirão sair vitoriosos diante das setas inflamadas do diabo. Um homem com duas almas
Os haitianos praticantes do vodu acreditam que o homem possui duas almas:
Gros bon ange: cuja tradução é: “grande anjo bom”. Essa alma, segundo acreditam os haitianos, tem a capacidade de sair do corpo enquanto a pessoa dorme. E, se não retornar, a pessoa morre.
Petit bon ange: traduzido quer dizer “pequeno anjo bom”. Essa alma, segundo crêem, proteger e guiar o adepto. Quando a pessoa morre, ela permanece por alguns dias guardando o corpo. Somente após um período de nove dias, contando a partir do sepultamento, é realizado um ritual para afastá-la.
Como a reencarnação faz parte da crença vodu, seus praticantes acreditam que a petit bon ange se transforma em algum objeto ou animal, geralmente uma grande serpente. Após a transformação, se aos rituais de sacrifícios e cerimônias, sob a responsabilidade dos parentes, forem negligenciados, a vingança da petit bon ange se volta contra eles.
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Aos interessados em saber mais sobre vodu e crenças ocultas, segue uma relação de obras interessantes e alguns sites:
Dicionário de religiões, crenças e ocultismo, de Nichols & Mather, Editora Vida, 2000.
O império das seitas, de Walter Martin, Editora Betânia, 1993.
Entendendo o oculto, de Mcdowell & Stewart, Editora Candeia, 1996.
Os fatos sobre os espíritos guias, de Ankerberg & Weldon, Chamada da Meia-Noite, 1996.
www.icp.com.br – Instituto Cristão de Pesquisas
www.cacp.com.br - Centro Apologético Cristão de Pesquisas.
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"A igreja evangélica tem crescido, mas ainda tímida em relação ao vodu", diz David Fantazzini sobre o Haiti
Ao lado de Chris Durán, cantor participou de culto ao ar livre. Projeto de evangelização também levou ajuda humanitária aos hatianos, como remédios e alimentos.
Desde a semana passada, David Fantazzini, Chris Durán e uma junta de missionários de diversas denominações desembarcaram em Porto Príncipe, capital do Haiti, para um projeto de evangelização local.
O grupo chegou ao país dia 17 e, no dia 18, quando se comemora a Independência do Haiti, foi realizado um grande culto ao ar livre. Além do Evangelho, levaram também ajuda humanitária, incluindo remédios e alimentos.
"Quando fui chamado, aceitei de imediato o convite. Meu novo disco fala muito de trabalho missionário, e me senti convocado pelo Senhor a ir. Se canto 'Aqui estou eu' (faixa que dá título ao CD), como diria 'não'", comenta Fantazzini, por msn, diretamente do Haiti.
Fantazzini encaminhou um e-mail a gravadora Graça Music, no qual narra sobre sua observação sobre o país. "Tenho a certeza de que a Igreja brasileira terá um papel fundamental na transformação e na libertação espiritual no Haiti. E, como foi pronunciado no culto de unidade Brasil-Haiti, o Haiti para Jesus. Jesus para o Haiti", disse o cantor.
Confira o e-mail na íntegra:
"Chegamos ao Haiti na terça-feira passada, dia 17, e confesso que nada em minha vida poderia me preparar para as coisas que estou vendo em Porto Príncipe, capital do Haiti. O povo é guerreiro e alegre, mas as imensas dificuldades do país endureceram o coração das pessoas e criaram uma mentalidade pedinte e conformada nos que vivem nessa ilha do Caribe.
A falta de energia elétrica e combustível obrigou a população a consumir a maior parte da vegetação em busca de carvão, e isso, somado ao lixo depositado perto dos rios e a falta de água encanada, resultou na extinção da maioria dos rios da ilha, levando o povo a sofrer com a falta de água para a própria sobrevivência. Os moradores que têm condições mantêm suas casas com geradores e baterias de carro, e usam a água de poços para suas necessidades.
Por não disporem de luz em casa, as pessoas passam quase que a noite toda andando pela cidade. É uma caminhada frenética pelas escuras e estreitas ruas de Porto Príncipe. Vendedores ambulantes disputam os poucos compradores de comida.
A igreja evangélica tem crescido, mas ainda tímida em relação ao vodu, religião praticada pela maior parte dos haitianos e que gera um pavor silencioso no coração, revelado pelo semblante carregado do povo.
Quando saímos às ruas para filmar a cidade, percebemos que as pessoas gritam em protesto e constantemente fazem gestos obscenos ao nosso cinegrafista Anselmo Döll, que, apesar de sua grande experiência pelo mundo, concorda que nunca sentiu como nesses dias de trabalho no Haiti a eminência do perigo.
A cidade toda é cinza, porque as casas são inacabadas e sem pintura. Os carros abandonados e quebrados na rua revelam as condições precárias das vias esburacadas, sem asfalto e cheias de pedras.
O que mais nos impressiona aqui é o amor e o carinho que o povo tem pelo Brasil. Eles são fanáticos pelo futebol brasileiro, e, quando um jogo da Seleção e transmitido, o povo sai às ruas para festejar.
No dia 18 de novembro, fizemos um culto de unidade entre Brasil e Haiti. Tivemos a participação do cantor francês Chris Duran, que, num ato profético da lavagem dos pés dos pastores haitianos, pediu perdão à Igreja no Haiti pelo tempo em que a França ocupou o país, e os pastores fizeram o mesmo por causa do derramamento de sangue dos soldados franceses no processo de libertação na nação.
O Senhor tem ligado o coração do povo haitiano ao Brasil, e creio que, em breve, o coração do brasileiro vai se unir a Deus em clamor pelo povo sofrido desse país. Tenho a certeza de que a Igreja brasileira terá um papel fundamental na transformação e na libertação espiritual no Haiti. E, como foi pronunciado no culto de unidade Brasil-Haiti, o Haiti para Jesus. Jesus para o Haiti".
Um abraço,
David Fantazzini
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